Este
trabalho refere-se à proposta de leitura de imagens artísticas do
subprojeto PIBID/Belas Artes que está sendo realizada na Escola
Estadual Municipalizada Professora Creuza de Paula Bastos, situada no
bairro INCRA, do município de Seropédica, localizado no estado do
Rio de Janeiro. Nessa escola que atende a educação infantil e o
primeiro segmento do ensino fundamental foram realizadas atividades
práticas e teóricas com o 3º, 4º e 5º anos, uma vez por semana,
nas aulas de arte, durante o primeiro e segundo semestre de 2015. O
objetivo inicial foi criar uma proximidade dos alunos com as imagens
artísticas e com o espaço do museu, para, a partir de então,
contribuir na reflexão crítica das imagens que foram apresentadas
aos alunos, objetivando com isto procurar estratégias que possam
evitar a formação de consumidores de imagens pouco reflexivos;
assim como pesquisar e avaliar em que medida, realmente, a apreensão
de imagens artísticas pode contribuir para o desenvolvimento
sensível dos alunos.
No
trabalho desenvolvido na citada escola, optamos pela metodologia da
pesquisa-ação proposta por Thiollent (2005) e pela Abordagem
Triângular sistematizada pela pesquisadora Ana Mae Barbosa.
Consideramos que o fato de se apropriar da linguagem artística,
contribui para que o aluno desenvolva sua própria leitura do mundo,
ampliando seu repertório e sua vivência cultural. Optamos assim,
por enfatizar o processo de produção dos alunos como estratégia
que melhor propiciará a vivência e a apreensão sensível das
imagens artísticas.
No
desenvolvimento das atividades na escola, constatamos que a
experiência de visita ao museu, que ocorreu no final do primeiro
semestre, seria a primeira da grande maioria dos alunos. Diante
disso, planejou-se promover uma aproximação entre os alunos e um
ambiente cultural ao quais tais alunos não tinham familiaridade, ou
seja, o ambiente artístico-museal. Com essa intenção, fizemos,
inicialmente, na própria escola, uma simulação do ambiente museal,
que consistiu em uma galeria no corredor do colégio, constituído
por imagens impressas. Nesse corredor, em que as três turmas têm
acesso constante, colocamos as impressões de algumas pinturas que
estão expostas na galeria do século XIX do Museu Nacional de Belas
Artes, na intenção de gerar nos alunos, um processo de
familiarização, incentivando por meio do convívio, uma intimidade
com as obras. Consideramos também essa ação uma forma didática de
instruir-lhes na especificidade do ambiente, para que fosse
propiciada uma atitude e um tipo de predisposição que pudesse, de
melhor forma, incorporar a recepção das imagens por parte dos
alunos, tal como concentração e introspecção, objetivando gerar
uma atenção especificas às imagens. As imagens selecionadas para
estar nessa galeria-escola foram: “Batalha do Avaí”, 1868, de
Pedro Américo, “Batalha dos Guararapes”, 1879, de Victor
Meireles, “Primeira Missa no Brasil”, 1860, de Victor Meireles,
“Mamão e Melancia”, 1860, de Agostinho José da Mota, “A
Redenção de Cam”, 1895, de Modesto Brocos. Algumas destas obras
têm relação com o cotidiano dos alunos e a identidade regional
onde eles vivem, uma vez que retratam ambientes rurais. Dessa forma,
o critério pra escolha da maioria das referências,
foi pensado de forma a evidenciar, através da temática e figuração
das pinturas, possíveis similaridades com seu cotidiano, marcado
pelo contexto rural de seu município.
Em
sala de aula realizamos uma atividade prática de desenho, na qual
foi proposto que eles desenhassem a obra que mais chamou a atenção,
e explicassem com suas próprias palavras o que se passava nas cenas
representadas nas obras. Com relação a esta parte do trabalho, os
desenhos nos ajudaram a perceber um pouco da relação dos alunos com
as imagens apresentadas, assim como as primeiras formulações
estabelecidas pelo impacto visual com as obras. Neste sentido, os
desenhos são discursos visuais que imprimem sensações e
sentimentos dos alunos.
Foi
feito uma atividade teórica, onde contextualizamos historicamente
cada obra que foi analisada. A proposta desta atividade era fazer com
que os alunos identificassem as obras a partir da contextualização
das imagens relacionando-as aos autores.
Ainda
na primeira parte do projeto, executamos a visita técnica ao Museu
Nacional de Belas Artes/ RJ, na galeria do século XIX, onde eles
puderam ver de perto as dimensões, relações cromáticas,
composição e a própria relação de espaço museal e o patrimônio
cultural exposto, que a imagem impressa não permite ver.
Após
a visita técnica, registramos dos alunos quais foram as novas
observações sobre as obras. Como resultado desse processo de
trabalho obtivemos os desenhos feitos pelos alunos da escola, a
partir das obras apresentadas, bem como um relatório de observação
a respeito da recepção das obras pelos mesmos, com suas falas e
questionamentos. Todo o projeto foi pensado para desenvolver a
percepção e capacidade de análise do aluno, relacionando com seu
contexto social. Tendo em vista que as imagens vinculadas ao
cotidiano destes alunos sejam repercutidas, em sua maioria, pela
televisão, internet ou outros meios de comunicação de maior
difusão, concernente à experimentação artística, para que ele
possa compreender e discernir aquilo que observa, não basta só o
estudo em sala de aula, sendo preciso ir a museus, espaços e eventos
culturais, aprendendo e percebendo através da vivência direta, para
que possa absorver e apreender aquilo lhe for apresentado. Um dos
objetivos esperados com a ida ao museu foi ampliar o imaginário
através da vivência e despertar o olhar para novas possibilidades.
Observamos que o contato dos alunos com as obras lhes causaram uma
mistura de euforia e curiosidade. Nesse momento, surgiram questões
como a figura do índio, técnica das obras, as imagens sacras, e um
tema que foi trabalhado em sala de aula, e exposto na galeria-escola,
que foi a questão do nu. Conduzimos os alunos até as obras que
foram trabalhadas em sala, obras que remetem a fatos históricos,
como “Redenção de Cam”, que trata da questão étnica racial, e
a “Primeira Missa”, que retrata a missão jesuíta e as Batalhas.
Podemos observar que, de certo modo, obtemos respostas diferenciadas
quando solicitamos para que os alunos falem verbalmente das imagens e
quando solicitamos que desenhem sobre as mesmas. Ao retornarmos à
escola passamos um questionário com o objetivo de verificar as
possíveis transformações na percepção dos alunos causadas pelo
espaço museal e pelo contato com os originais. Realizamos com eles
outros trabalhos práticos como pintura, onde os alunos puderam fazer
suas próprias tintas, isogravura que é uma técnica que ao invés
de utilizar madeira usamos bandeja de isopor e modelagem em argila. E
ao final do segundo semestre de 2015 será realizada uma exposição
com os trabalhos dos alunos.
Acreditamos
que a leitura da imagem artística contribui para uma apreensão mais
aprofundada sobre as imagens no mundo, uma vez que predispõe o
potencial de pensar as imagens para além de seu sentido mais
aparente.